Internauta de primeiras viagens, com menos de dois anos de navegação, já há algum tempo venho sendo estimulado por amigos e leitores a criar um blogue (assim mesmo, antropofagicamente aportuguesado). Afinal, segundo eles, com quase meio século de jornalismo, eu deveria dispor de um espaço próprio para dar o meu recado e expressar as minhas opiniões, fora dos eventualmente disponíveis nas palestras e na mídia. E a internet abre, democraticamente, o caminho para isso, na medida em que proporciona a todos a alternativa de deixarem de ser apenas passivos consumidores de mídia. Não há contra-indicação: se todos resolvessem construir blogues pessoais, o único inconveniente possível, mas improvável, é acabarmos falando sozinhos, mas o monólogo ainda seria, diante da vida, opção mais criativa do que a postura de inércia da maioria dos meros leitores, ouvintes e/ou telespectadores. A participação é, afinal, um dos pressupostos não só da democracia, mas da própria vida.
Também há tempo, no entanto, ando ocupado com três projetos de livros: a 2ª edição do Leme: viagem ao fundo da noite; a gravação das minhas memórias; e uma coletânea de artigos publicados ao longo da carreira, por sugestão do meu amigo Michel Misse, professor de Sociologia do IFCS/RJ e também escritor. O blogue seria, portanto, um quarto item numa agenda que já me absorve por inteiro, ainda que não me obrigue a postagens diárias.
Foi nesse momento de avaliação dos prós e contras que se fizeram ouvir, dos desvãos da memória, dois argumentos decisivos e definitivos: “É preciso ser um homem do seu tempo” (Charles Baudelaire) e “Quem não se comunica se trumbica” (Abelardo Barbosa, o Chacrinha). Vozes distanciadas pelo tempo em que viveram e, inclusive, dissidentes – por exemplo, quanto ao domingo, pois o francês detestava o dia da semana em que o pernambucano atingia o orgasmo do seu protagonismo midiático – confluíram, assim, para me engajar, às vésperas dos 70 anos, numa nova experiência, um novo aprendizado.
Não quero me trumbicar, deixando de me comunicar e de ser um homem do meu tempo. E o blogue está aí, fundindo, numa síntese dialética, os artigos que continuo coletando do passado com as impressões, imagens e opiniões do presente. Desde já, com inquietante saudade do futuro, da completude que ainda está por vir.
*Arthur Poerner é jornalista e participou do evento "1968: uma liberdade com expressão". Colabora com o grupo Circo Industrial.
Confiram: http://arthurpoerner.blogspot.com/
2 comentários:
Poerner é genial,
não me lembrava quem inventara "Quem não se comunica se trumbica". Grande Chacrinha!!
Valeu Nara
Pô Alexandre, este mote foi usado exaustivamente pelo Circo Industrial, na apresentação que fizemos em outubro do ano passado no pátio da Facha, na Muniz Barreto, rsrsrs, bem acho que você não viu, pois usamos o mote, e demos os devidos créditos a este COMUNICADOR INCRÍVEL, que foi o Chacrinha.
Abração!
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