“Ô Mulhé, traz meu lençol, que eu estou na rede deitado!”. Esse é o mote de Joaquim Simão, que leva a vida preguiçosamente, sem querer saber de trabalhar, desperdiçando suas energias somente para o ócio criador, cantado em versos no espetáculo. Assim, leva sua esposa Nevinha à loucura. Mas basta uma prosa ao pé do seu ouvido para tudo voltar ao normal. Essa é sua vida, dedicada a criação da literatura de cordel, e dela ele não abre mão. Religioso e fiel a sua esposa, desdenha a fama e a riqueza que pode ganhar com a poesia pela vida preguiçosa e simples que leva com sua esposa, apesar de às vezes faltar até comida para alimentar seus filhos.
Um homem rico, que promete mundos e fundos para ter o amor de Nevinha; sua esposa, infiel, metida a intelectual interessada pela “arte do povo”, é louca por Simão, o poeta preguiçoso. No meio disso tudo, ou acima, como quiser, São Pedro e o arcanjo São Miguel tentam dar um rumo para a estória; Jesus observa as ações de seus fiéis escudeiros. O que deve fazer Simão: trair sua mulher e conseguir a fama, e juntamente com ela o dinheiro para o sustento, ou ser fiel a sua esposa e continuar levando a vida que gosta, apesar de pobre e ociosa? Sua esposa vive dilema parecido: se rende às cantadas do fazendeiro rico e dá uma vida melhor aos seus filhos, ou continua fiel ao homem que ama, apesar dele só querer saber de fazer poesia, arrumando desculpas mortais para não trabalhar? Três demônios farão de tudo para intervir na boa fé e conduta do casal.
Esse é o enredo da comédia A Farsa da Boa Preguiça, peça do consagrado Ariano Suassuna, mestre em estórias que retratam a temática nordestina, como o Auto da Compadecida, retratado no teatro, tv e cinema. A direção é de João das Neves, um dos fundadores do “Grupo Opinião”. O ponto crucial dessa comédia é o “ócio criador” de Simão, que não é entendido por alguns. É exaltada a forma criativa que o nordestino leva a vida, usada para fazer arte e sobreviver. Como dizem os atores/cantores:
"este é o ócio criador/E a todos traz alegria/E que enche, meu senhor/ Até barriga vazia/ Pois se a formiga suporta/ Tanto peso carregar/ É que ouve o canto amigo/ Da cigarra a lhe alegrar"
Essa é contraposta ao trabalho duro que faz parte da jornada dos nordestinos. Os diálogos são marcados pela rima, além de intervenções de mamulengos, também marcantes na cultura nordestina. A religiosidade também é abordada, a qual o povo é bastante apegado, enquanto outros só recorrem a ela na hora da morte. A peça é marcada por intervenções musicais nordestinas, na qual os próprios atores se revezam em atuar, cantar e tocar. Elenco de primeira! Vale a pena conferir!
A FARSA DA BOA PREGUIÇA
Teatro Sesc Ginástico. Av. Graça Aranha, 187 - Centro. Tel: 2279-4027.
Quin a dom, 19h. R$ 7,50 (comerciários); R$15 (meia-entrada); R$30 (inteira).
Temporada até 10 de maio.
Elenco: Guilherme Piva (Joaquim Simão), Bianca Byington (Dona Clarabela), Daniela Fontan (Nevinha), Ernani Moraes (Aderaldo Catacão), Flavio Pardal (Miguel Arcanjo e Quebra-Pedra, o Cão Caolho), Francisco Salgado (Simão Pedro), Leandro Castilho (Manuel Carpinteiro e Fedegoso, o Cão Roxo) e Vilma Melo (Andreza, a Cancachorra)
Mais informações, entrar no site
http://www.arianosuassuna.com.br/, que faz parte do projeto de disseminação da obra do autor, que pretende dar acesso irrestrito às obras de Suassuna. A realização da peça A Farsa da Boa Preguiça é a última etapa desse projeto.
Divulgação: Adriano Araújo